segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Escritores e leitores ideais

Todos os leitores e analistas de grandes obras mantêm uma busca ávida pelo escritor ideal, aquele com agudeza e engenho singulares em seus textos, mas que são capazes de transmitir suas argumentações e pensamentos até a um analfabeto funcional. Essa busca nunca cessará.
Enquanto ela ocorre, os escritores procuram pelo leitor ideal, não aquele flexível, porém inextensível e de massa desprezível, e sim daquele que compreenda seus escritos, seus jogos de palavras, de imagens, de construção, da maneira que pretendiam lhe passar, sem dar brecha à interpretações errôneas. Assim seria um interlocutor ideal. Entretanto, quando leem algo mais elaborado ou menos convencional, logo formulam teorias conspirativas, dizem que foi obra de um pacto com o diabo, que há mensagens subliminares temerosas, que é um prenuncio do apocalipse ou da formulação de uma nova ordem mundial, encontram sinais de uma abdução e contato com outras formas de vida inteligentes tão reais quanto suas alucinações, buscam apologias às drogas e ao paganismo, são mais criativos do que o próprio locutor. E depois, será o comunismo?
Existem artistas que transmitem mensagens nas entrelinhas sim, mas nem todos. Então, por que veem tudo dessa maneira, a culpa é da televisão? Talvez sim. Não há um motivo certo para isso. Acredito que tudo depende dos estados emocional, espiritual e intelectual do receptor, além de envolverem-se em sua análise sua maturidade, suas experiências, suas influências e os estímulos externos e interiores que recebe.
Escritores e leitores ideais, são ideais pessoais, portanto, sujeitos à interpretação e nunca existirão.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Uma vida sem razão faz mais sentido

O que poderia ser, o que foi, o que é, o que será? Nunca imaginou que tudo o que eventualmente ocorreu, pode ser uma brincadeira, um joguete do destino, o acaso, o livre-arbítrio ou Deus? Não acredito que qualquer ação ou feito estejam relacionados a nada, creio plenamente em Deus, sempre existem motivos e propósitos. Sinto muito se não entendo os seus, sinto mais ainda se não entende os meus.
Estou olhando através de você, tento te desvendar com inconsequentes esforços que despendem parte de meu tempo, de meus deveres, de minha liberdade, de meu lazer, de minha vida. Eterno questionador, sempre curioso, sedento pelo saber e embebedado pela razão, procuro o por e o que, existentes e inventados, sobrenaturais e lógicos, simples e complicados, e os "pors" e "ques" que encontrar, serão poucos em relação àqueles que ainda poderiam ser achados. Essa busca incessante corrompe a pureza pueril carregada por todos, dentro de si, e gasta nosso tempo com "visões de um mundo através de um vidro e reflexões sobre a solução cósmica para guitarras de blues, entretidas em uma discussão filosófica".
Cada momento é uma foto passada numa reunião de família para ver os registros das férias daquele seu tio, que se deu bem na vida, por meio de projetores antigos, os apresentados em filmes clássicos. Se um fotógrafo demora muito para "capturar a sua alma", naquele instante, ela pode muito bem já não estar mais lá, ou você pode sair com os olhos fechados.
 Esta passagem pela Terra é muito preciosa para se perder no sentido pobre e simplório do bicho humano.
Minha vida sem razão nunca fez tanto sentido.

domingo, 11 de setembro de 2011

E assim ele morreu, feliz

Era uma sexta-feira diferente das outras e ele já pensava se este teria sido o pior dia de sua vida. Depois de um dia duro de trabalho recheado pela ansiedade oriunda da aproximação do final de semana, merecia mesmo tudo aquilo?
O início dessa semana foi marcado pela preguiçosa segunda-feira e seguem-se os os dias figurantes, terça quarta e quinta. No primeiro dentre os secundários, fora tomado por uma onda de papéis sobre a mesa de seu escritório. Eles consumiram suas horas como traças esfomeadas os consumiriam num porão escuro e úmido. No segundo daqueles dias, divertiu-se na "cela 14", como costumava chamar sua sala, atirando bolas de papel, cuidadosa e metodicamente amassadas por ele, no cesto de lixo. Nos momentos seguintes à sua saída do trabalho no mesmo período de 24 horas, pensou em como havia feito nada no tempo, que deveria significar tudo ou, no mínimo, boa parte disso. Aproximava-se a sexta-feira, porém faltava um dia figurante, a quinta, muitas vezes vivida como a primeira metade da sexta, mas com ele não ocorria o mesmo. Logo ao ser acordado pelo seu galo eletronicamente programado, foi tomado por um desânimo paralisante e decidiu-se a passar o resto do dia na cama, esperando por seu sucessor.
Era uma sexta-feira diferente das outras e ele já pensava se este teria sido o pior dia de sua vida. Depois de um dia duro de trabalho recheado pela ansiedade oriunda da aproximação do final de semana, merecia mesmo tudo aquilo? Assim que chegou em casa, pensou e julgou sabiamente que o que sentia era a pior sensação que já havia tido.
Fechou a porta com um coice feroz e atirou sua maleta por cima da mesa, acertando um vaso que caiu no chão, quebrando-se. Retirou os sapatos com os pés enquanto tentava alcançar suas costas. Esforços em vão. Estava piorando a todo momento, não poderia passar nem mais um minuto com aquele sentimento, tinha vontade de arranhá-las como nunca o fizera. Folgou a gravata para que pudesse respirar melhor ao mesmo tempo em que buscava por um objeto longo e afiado nas gavetas de sua cozinha. Abriu-as com desmedida força, derrubando os talheres e todos os outros artefatos culinários em seu piso de "shopping center", o que incomodou o seu vizinho do andar debaixo. Nada, nenhum dos que caíram servia. Pensou numa superfície áspera em seu apartamento, mas naquele momento de descontrole e irracionalidade não era capaz de pensar com clareza. Correu por todo o local berrando como louco, entretanto as paredes eram grossas e os moradores não podiam ouvir seus gritos de socorro berrados para ninguém. Chegando no quarto, pulou na cama e rasgou suas vestes, as veias saltavam em seu pescoço agora vermelho. Deitou-se e rolou de uma maneira que se assemelhava a um ataque epiléptico, em seguida vasculhou seu guarda-roupas procurando pelo presente que ganhara de seu brincalhão e despreocupado irmão mais velho e decepcionou-se por não encontrá-lo no local em que deixara. Enfurecido, arrancou uma das portas do móvel, partiu para os lugares em que acreditava tê-lo deixado, determinado a acabar com toda aquela agonia. Naquele momento, quem entrasse no apartamento poderia jurar que um grupo de paleontólogos o havia invadido cegos pela certeza da existência de um minúsculo e raro fóssil no imóvel. Estava desesperado, quando enfim encontrou o coçador de costas atrás da porta do banheiro. Com olhar e fala semelhantes aos de Smigol, de Senhor dos Anéis, deu início ao ritual de "coçassão". De maneira parecida à alguém que ingeriu ácido lisérgico dietilamida, teve alucinações das mais diversas coisas nas mais impossíveis combinações de cores. Nenhum orgasmo que já teve foi tão prazeroso quanto a sensação de "matar sua coceira". Caminhou pela moradia com os olhos fechados, cambaleava e ria loucamente. Passou por todos os ambientes de seu apartamento e, sem que percebesse, chegou a varanda de sua ampla sala de estar, rodopiando alegremente. Sentiu um vento forte em seu rosto, rodopiou mais depressa e, no momento em que abriu os olhos, já estava perto demais do chão para evitar um acidente.
E assim ele morreu, feliz, após cometer "um assassinato".

sábado, 10 de setembro de 2011

Está na hora do show

São tudo fases, a transição é dura, difícil, às vezes duradoura e desesperançosa. Você fica decepcionado com seus próximos, seus distantes e chora. Mas as lágrimas derramadas são por eles ou por si mesmo? A depressão parece um destino, a solidão, o seu consolo e então tudo está perdido. A multidão são fantoches, partes de um teatro duro, mau, porém satisfatório e instigante. Chega de representar papéis, os diretores já foram controladores o bastante, desempenharam bem seu dever e o fraco, caiu. Nem tudo acabou-se, entretanto, a fase de estar perdido e se procurar por todos os lugares, em vários textos, livros, em palavras, em outros fantoches, no roteiro.. está terminada. Encontrei-me apenas em mim mesmo e logo as linhas controladoras do destino romperam-se, vejo-me livre novamente para recomeçar o que deixara para trás, noutros tempos. Nada mais de forjar uma realidade para enganar-me, desta vez é sério, e está na hora do show.

"Todos têm algo a esconder exceto eu e meu macaco"

Veja, eles não parecem ter algo a esconder? Estão conspirando contra você, fazendo planos para acabar com tudo o que foi construído. Eles parecem ter inveja, ou seria amor exacerbado? Olhe em volta, estão com uma visão estranha, parecem saber algo que você não sabe, ainda.
Somos todos amigos, então por que desconfio de de que usem máscaras? Como serão de verdade, são bons, vêm em missão de paz, ou semeiam a discórdia? Só sei que não me sinto bem.
Estão me pressionando para eu ser o que querem que eu seja, dizendo o que é certo ou errado, me controlando. Isso enlouquece qualquer um, é de matar! Vamos, vamos lá, vamos com calma, é o que tenho para dizer.
Eles tem seu interior voltado para fora e seu exterior é sua imagem, sua identidade falsa. Vão com calma, façam uma brincadeira, contem uma piada para descontrair, tornem isso tudo um pouco mais fácil para mim e por fim voltaremos a conversar.
Quando lá estivermos, sejam verdadeiros e ponham o jogo na mesa, sem mais cartas nas mangas ou blefes. Agora quero voltar, ser eu, e não sofrer por defender aquilo em que acredito, aquilo que amo. Chega de seriedade e de teatro, vamos lá!
Sim, agora sim, posso pelo menos cumprimentar meu macaco, ainda que de longe. Mas não parece real, talvez seja uma imagem dele projetada na tortuosa sala de espelhos de meu cérebro, uma realidade forjada. Posso estar me traindo, quem sabe?
 Não me importo se "todos têm algo a esconder exceto eu e meu macaco". E se ele estiver perdido? Bem, por enquanto não sou meu macaco.


*Esse texto foi feito pouco tempo depois de "Alvin e os esquilos", porém não postado. Revela uma confusão mental e emocional angustiantes. Só o publico agora, pois venci a transição e escrevi uma resposta para mim mesmo, o texto "Está na hora do show".